DF: necessidade de sono de alunos faz escolas mudarem horário
Enquanto oito horas são suficientes para a maioria das pessoas, 10 horas de sono são o mais indicado na faixa etária entre 12 e 18 anos
atualizado
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A proposta de atrasar o início das aulas do turno matutino para os estudantes de ensino médio vem ganhando adeptos entre as escolas particulares de Brasília. De acordo com estudos científicos desenvolvidos nos últimos 15 anos, o horário a partir das 8h é considerado mais saudável para os alunos, por causa do relógio biológico deles. Na faixa etária de 12 a 18 anos, a indicação é de 10 horas de sono por noite, para que estejam despertos o suficiente para as atividades do dia seguinte.
O Colégio Seriös, localizado na Asa Sul, instituiu em 2018 o horário das 8h15 às 16h para os anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio. “O tema foi bem discutido com a comunidade, e criamos uma alternativa de plantão pedagógico que começa a funcionar mais cedo, como saída para os pais que entram no trabalho no horário convencional”, explica o diretor pedagógico da escola, Nei Vieira.
Segundo ele, é visível que o rendimento dos estudantes melhorou depois que o início das classes atrasou. “Eles chegam aqui bem mais despertos, o que favorece a concentração”, afirma.
O tradicional Colégio Marista da Asa Sul é outra instituição que pretende aderir às aulas depois das 8h. No ano que vem, a escola oferecerá o horário das 8h45 às 15h45 como uma das opções para o ensino médio. O COC, em sua unidade do Sudoeste, que será inaugurada em 2020, começará o período letivo matutino a partir das 8h20 para os estudantes do ensino médio.
Levando em conta a quantidade de informação científica já produzida sobre o assunto, o Sindicato das Escolas Particulares de Ensino se declara favorável à mudança. “Os estudos mostram que os adolescentes precisam dormir mais tempo e tendem a ficar acordados até mais tarde”, afirma Marcos Scussel, representante do sindicato. “A alteração de rotina, entretanto, depende da realidade de cada escola e deve ser avaliada com os pais”, completa.
Scussel lembra ainda que a mudança de horários gera custos, pois o espaço físico das escolas precisa ser adaptado com refeitórios para os alunos. Ou seja, é possível que a novidade cause impacto sobre as mensalidades escolares.
Ciclo circadiano
Especialista em cronobiologia e professora da Pós-Graduação da Universidade Católica de Brasília, Elaine Vieira explica que os adolescentes, por causa de características fisiológicas, têm mais necessidade de sono do que as pessoas em geral. “A história de que eles são preguiçosos é um mito. Eles precisam dormir mais mesmo”, afirma.
Enquanto oito horas são suficientes para a maioria das pessoas, 10 horas de sono são o mais indicado na faixa etária entre 12 e 18 anos. “Desde 2005, vem se construindo consenso sobre isso”, detalha a pesquisadora. Nos últimos anos, os trabalhos têm associado o desempenho escolar à quantidade de horas dormidas.
Uma outra vertente de pesquisas sustenta que a privação do sono está relacionada ao desenvolvimento de comportamentos irritadiços, impulsivos e depressivos durante a adolescência. “O ciclo circadiano dos adolescentes demora mais tempo para ser cumprido, por isso há um movimento mundial que defende aulas mais tarde”, detalha a neurologista Rosana Cardoso Alves, da Associação Brasileira do Sono (ABS).
Formada por especialistas em qualidade de sono, a ABS defende a mudança de horário e já apresentou, inclusive, uma projeto de lei ao Congresso Nacional para que as escolas sejam obrigadas a começar as aulas mais tarde. “O senso comum acredita que, na adolescência, os jovens ficam preguiçosos. Isso não existe. Na verdade, o que existe é um horário escolar que não lhes permite um descanso adequado”, aponta. Na Califórnia, nos Estados Unidos, uma lei semelhante foi instituída nesse mês de outubro.
Escolas públicas
Apesar de a mudança estar em curso nas escolas particulares, nas escolas públicas – onde estão a maioria dos estudantes – não há perspectiva para adaptações.
De acordo com resposta enviada pela Secretaria de Educação do Distrito Federal, variações no horário de entrada seriam inviáveis porque muitas das escolas da rede pública que ofertam o ensino médio também oferecem outras etapas de ensino, que ocupam os turnos matutino, vespertino e noturno. “A mudança de horário no ensino médio acabaria por causar sobreposição de turnos, tornando inviável o atendimento hoje realizado”, informa nota da SEDF.